VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007

Helena Langrouva & Eduardo Langrouva
Revisitando Casablanca de Michael Curtiz (1943)
- Ficção fílmica e alquimia do feminino-

Primeiro reencontro a dois de Rick e Ilsa,
na primeira noite, em Casablanca

O raccord continua de Paris para Casablanca, na sequência seguinte, quando terminam as memórias de Paris, por parte de Rick. Ele continua sempre a beber e a ouvir Sam a tocar “As time goes by”, sabe que Ilsa irá aparecer mas não sabe como ele irá reagir. A sua intuição confirma-se. No fundo do longo corredor sombrio, de noite, no seu café, abre-se uma luz que envolve a figura de Ilsa, a abrir uma porta, ao longe, toda vestida de branco, com uma longa écharpe transparente a cobrir-lhe a cabeça. O plano aproximado de Ilsa junto da porta que ela está a abrir confirma a sua firmeza e mágoa, a sua vontade de o esclarecer. Ilsa caminha firme e quase apressada na direcção de Rick que está sentado a uma mesa, em estado de embriaguês e de grande sofrimento.

Ilsa tenta acalmá-lo pedindo para ela lhe contar uma bela história de amor que tenta sintetizar, de uma jovem de Oslo que se apaixonou em Paris por um homem de grandes ideais que ela admirava e venerava, a quem tudo devia e que amava: era a sua própria história: o grande plano de Ilsa a contar o seu amor vindo dos tempos da sua juventude ( 2791) é de uma beleza comovente, revela uma nobreza de sentimentos e de ideais onde converge a beleza e a virtude, uma densa espiritualidade, uma discreta comoção até às lágrimas, como na primeira vez que reencontrou Rick, de longe, no seu Café, nessa mesma noite. Essa comoção é traduzida num grande plano que, pela sua luz, a transparência do véu, a expressão de quase santidade da personagem comove o espectador mas não chega a atingir Rick que, sob o efeito do álcool, deixa apenas emergir a mágoa de um coração destroçado que não quer continuar a ouvir a história, que ofende Ilsa perguntando apenas se o deixou por causa de Lazlo, ou por outros, ou se é daquelas que nem sabem contar quantos homens tiveram. Ilsa levanta-se de imediato, silenciosa, ofendida, e vê-se desaparecer firme e rapidamente até ao fundo do longo corredor sombrio.

Fica o hiato da verdade completa assumida com a maior dignidade por Ilsa, aguardando talvez que Rick pretenda ser esclarecido como ela tanto desejou. É mais uma vez a sua dignidade que irá esclarecer Rick quando ele estiver sóbrio.

INICIATIVA:
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA)
www.triplov.org

Patrocinadores:
Câmara Municipal de Lamego
IDP - Complexo Desportivo de Lamego
Junta de Freguesia de Britiande
Paróquia de Britiande
Dominicanos de Lisboa

Fernanda Frazão - Apenas Livros Lda
apenaslivros@oninetspeed.pt