VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007
A GRANDE MÃE E A VIA LUNAR
José Medeiros

No princípio era o Um, receptor e transmissor do seu próprio Poder e Vontade. E o Um, dividindo-se nas Suas duas polaridades, engendrou o Três que se projectou no Plano em que a Luz se solidificou.

O Pai, criador, é o Centro e a Coroa do Universo. A Mãe, geradora, é a Árvore da Vida, o Caminho que permite a ligação entre as Esferas, a Senhora dos ciclos vitais, que dá forma à luz, ligando no seu ventre a Energia e a Matéria. É a Grande Mãe da Tradição, a Lua Divina, a Luz Branca da Obra.

Essa Luz, que faz germinar a semente divina, inicia o seu ciclo a Oriente e transportada pelo Ar, é projectada pela Água, a Ocidente.

A Sul, o Sol, que é o pai, transmite-lhe o calor necessário para que a Obra se inicie.

A Norte, a Lua, que é a Mãe, encontra os alimentos que a nutrirão no seio verde da Terra.

Hermes, o Tês Vezes Grande, permitirá o acesso às três partes da Sabedoria que nos ajudará a realizar a Obra revelada na Esmeralda. Desta maneira, o que está em baixo é igual ao que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para que se realizem os milagres do Um.

Rafael, Miguel, Gabriel e Uriel, os guardiães dos Portais, velarão para que a Obra se realize e só permitirão a passagem aos que, em peregrinação, se libertem dos metais para fazerem o Caminho.

O grande rio, a que os antigos chamaram do Teixo, a árvore sagrada que Druidas e Celtas consagraram aos saberes e ao passado, às forças telúricas, a Saturno, é a estrada que, pela água, nos projecta no Ocidente não revelado, onde os antigos egípcios situavam o Reino do Ká, dos que, pelo Conhecimento, se vão da lei da morte libertando. A “Coluna do Norte” é a Grande Mãe, a Serra em que a Lua se manifesta, dominando a Penha, ou a Pena que pesa mais do que o Coração, sobrepondo a Razão à Emoção.

Fernando, o Sol, veio fecundar Maria, a Lua, para que o Casamento Real se consumasse e a Obra, iniciada na matéria, fosse realizada nos Planos Superiores.

O Caminho, em desprogramação, liberta-nos das escórias ajudando-nos no entendimento da matéria. A programação permite-nos a preparação da Obra. A entrada no Athanor conduzir-nos-á ao Graal, onde o domínio do Reino, pela via do Equilíbrio, nos ajudará a alcançar a Coroa.

A grade marcial separa os profanos dos iniciados. No meio do lago, a torre encerra o segredo, revelado mas não partilhado. Os gansos são os guardiães do caminho e as suas patas indicam que a trindade é a projecção da unidade. Com engenho, separa-a, purifica-a em cada um dos seus aspectos e reúne-a de novo, até que o Casamento Real aconteça e o Um se manifeste em toda a sua pureza.

O Peregrino fará o caminho serpentiforme, que é longo mas revelador, com perseverança e vontade, penetrando na terra, purificando-se pela água, renovando-se pelo fogo e projectando-se pelo ar através das pontes que fazem a ligação entre os vários Planos. E pelo entendimento dos Quatro Elementos fará o entendimento de si próprio. O que está dentro está relacionado com o que está fora e o que está fora é uma projecção do que está dentro.

A Terra é a Serra, a Mãe, a Matriz, o Ovo dos Filósofos onde a Água, o Fogo e o Ar se lhe juntarão para que se realize o milagre do Um e a Vida se manifeste. As Sete Energias activá-lo-ão, conferindo-lhe as características necessárias para que de forma autónoma e cumprindo o projecto estabelecido pelos Mestres, possa percorrer os três ciclos de Saturno, aprendendo, construindo e realizando.

Saturno fornecer-lhe-á a Energia Telúrica necessária para a acção. Júpiter dar-lhe-á a compreensão do Plano, do espaço envolvente, conferindo-lhe a capacidade de se projectar. Marte permitir-lhe-á concentrar a vontade num objectivo. Vénus despertar-lhe-á a percepção emocional. Mercúrio ajudá-lo-á a gerir correctamente os recursos que serão colocados no seu caminho. Pelas cinco Energias se fará o caminho descendente, entre o Rigor e a Tolerância, para que se cumpra o Caminho da Matéria. A condensação da Luz, através da grande Espiral cósmica descendente, atingirá a máxima concentração, transformando-se em matéria densa no Plano do Reino.

Seguindo a Água se chega à fonte, onde os ciclos do Sol e da Lua se sobrepõem e o espírito, a Pomba, faz a ligação entre os opostos. O crescente envolve o falo, indicando a relação íntima necessária à concretização da vida. Em árabe, Fernando indicou que é a passagem, o encontro do que desce e do que sobe, onde a Terra e a Água são animados pelo Fogo e conduzidos pelo Ar. Elevada, a Esfera é mantida pelo Oito cósmico, num equilíbrio alcançado pela sobreposição dos dois ciclos: o da Lua e o do Sol.

Na estufa, o casamento da terra e da água é selado pelo fogo, que faz germinar as plantas necessárias para a realização da Pequena Obra. As da Lua serão as escolhidas, pois por ela se iniciará o regresso em ascensão, pela Coluna do Meio, a do Equilíbrio. O domínio do corpo físico será conseguido, permitindo que a consciência se liberte e assegure o domínio do espaço/tempo. Agindo sobre o subconsciente, ajudará na libertação das sujeições materiais, permitindo, pela iniciação, o acesso à Esfera do Sol que é a porta do Divino.

O acanto, a urze, a madressilva, o pilriteiro, as papoilas ou as chagas, trabalhadas de forma canónica, como Paracelso nos ensinou, permitirão a preparação dos Elixires Lunares que nos permitem a abertura dos Véus de Isis, a Senhora da Magia e a passagem consciente através dos labirintos da mente. Agindo sobre o Centro Frontal, o da Terceira Visão, o ponto da percepção da luz que está ligado à capacidade de visualização e compreensão dos conceitos mentais, permitem o entendimento da realidade manifestada através da visão e aumentam a capacidade de imaginar e sentir o que está para além do manifestado.

Na gruta, revelada e ocultada pela Árvore da Vida, por três passos se terá acesso ao ventre materno, em que serão vividas as três fases da Iniciação. Aí, Visitando o Interior da Terra e Rectificando, se Iniciará a Obra Lunar, encerrada num Ovo Cósmico, Hermeticamente selado pelo fogo da vontade. E num tempo que não é um tempo, num lugar que não é um lugar, estaremos no limiar entre os mundos, onde os Guardiães permitirão a passagem e os Mestres se revelarão.

A Lua, que estabiliza a união do corpo com a alma, como Mãe caridosa e vigilante acompanhará os neófitos, ajudando-os a modificar emoções e sentimentos viciados e a agir sobre o Sal Filosófico, o corpo físico condicionante do corpo energético que é a semente divina em peregrinação pelo Plano da matéria densa.

A viagem, pela Água, pelo Fogo e pelo Ar, conduz ao Templo das Doze Colunas, as Doze Casas que, na segunda Esfera, atribuem as características necessárias para que os Três Ciclos sejam vividos de maneira Justa e Perfeita e o Caminho seja percorrido com Força, Beleza e Sabedoria. Aí, na câmara ritual, guardada pelo Druida, os Quatro Elementos, manifestados pela Cruz Crística plena, serão trabalhados pelos Três Princípios, o Sal, o Enxofre e o Mercúrio Filosóficos. A Lua encerrará o Círculo e o Pentagrama manifestar-se-á no Ser, permitindo-lhe a percepção extra-sensorial.

O final da Obra realizar-se-á no interior do Castelo/Athanor, marcado pelas cores da Arte: o negro, o branco, o amarelo e o vermelho. Quem recolhe a chave e passa a porta, entre colunas, entenderá que os Três Princípios, depois de purificados, deverão ser reunidos num só e depois da passagem pela morte simbólica, em que o Pentagrama invertido indica o caminho dos mundos subterrâneos, ou interiores, a luz manifestar-se-á de novo, revelando uma nova chave.

A via é a da Cavalaria, em que só um acto concluído pela vitória dará direito às Armas novas. Mas não é dominando, mas dominando-nos, que a grande espiral nos conduzirá ao interior do Templo, onde a Mãe, reunindo o Sol e a Lua, ou as duas polaridades do Um, dará origem à Trindade Divina representada pelo Menino/Deus, a Pedra Branca ou purificada, o Divino manifestado mas não criado, que permitirá a ligação do que está em cima com o que está em baixo. Só a aprendizagem, após a morte simbólica, permitirá encontrar a verdadeira direcção do Caminho.

Como Fernando, Mestre nas artes, ou na Arte, deixou bem indicado no seu livro de pedra, onde profanos e iniciados estão separados pelo esquadro, os três degraus e as romãs, a partilha do Pão é desigual. Neste Templo da Tradição, onde os Planos se cruzam e as Energias se tocam, o passado é purificado e reordenado, para que nasça um novo ciclo.

A Via Crística permite entender a transmutação necessária para que a Energia Primordial se manifeste sobre o corpo, o Reino e, libertando-se dos condicionalismos da matéria, reencontre na Mãe o caminho de regresso à Casa do Pai.

Para que a Obra se realize, não é possível ignorar a Regra que diz:

1 - Não faças a outrem o que não gostarias que te fosse feito, mas faz o que quiseres no Caminho do Conhecimento, pois só ele te permitirá alcançar a Luz.

2 - Não é a divindade que buscas, mas a maneira como o fazes, que te permitirá progredir no Bom Caminho e vencer o Bom Combate.

3 - Quando a Eternidade é o limite e o Conhecimento a meta final, nada de supérfluo nos poderá condicionar.

O que foi dito sobre a Obra não está completo, mas ajudará os que buscam o Caminho a entenderem a sua própria realidade.

Em Toledo, na primeira hora de Júpiter, do dia de Saturno, de São Feliciano e São Lobo.

Em Mafra, na segunda hora do Sol, do dia de Júpiter e de São Basílio Magno.

 

José Medeiros

INICIATIVA:
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA)
www.triplov.org

Patrocinadores:
Câmara Municipal de Lamego
IDP - Complexo Desportivo de Lamego
Junta de Freguesia de Britiande
Paróquia de Britiande
Dominicanos de Lisboa

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