VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007

Ana Luísa Janeira
Mutações dos saberes e das ciências no feminino

INDEX

Nota prévia
Mutações em espaços e tempos femininos...
A Senhora Maria
A Senhora Albina
Novas formas de acordes concertados...
BIBLIOGRAFIA

Mutações em espaços e tempos femininos
nos meados do século vinte

A narrativa vai reproduzir a memória em volta de duas mulheres: uma analfabeta, outra quase. Com mais precisão, num falar feminino, com estórias-refúgio, e processos de transformação, relativamente à mundividência arquetípica.

Particularizando um pouco mais, começarei pelo interior do feminino rural minhoto: quer nas mudanças de uma sociedade centrada na pequena agricultura, no Vale do Rio Ave, simbolizada pela Senhora Maria; quer no prolongamento de um imaginário rural, ainda mais deslocado no espaço e no tempo, simbolizado pela Senhora Albina. Estas realidades contribuíram, pois, para uma sensação perdurante, que sempre me foi acompanhando, relacionada com experiências e vivências que complementam (bi)univocamente os “saberes” e as “ciências”.

Para felicidade, também senti, à minha maneira, aquilo que Almeida Garrett (1799-1854) sintetizou assim:

«Lembra-me, em pequeno, a imensa alegria que eu tinha quando a minha Brígida (1) velha, criada que nos contava e cantava estas histórias, chegando ao passo em que a condessa ia morrer as mãos do seu ambicioso e indigno marido, mudava de repente de tom na sua melopeia e exclamava:

"Tocam nos sinos na Sé.

Ai Jesus quem morreria"?» (2)

Ou assim:

«Oh! magas ilusões, porque não posso

Crer-vos eu co'a fé viva de outra idade,

Em que de boca aberta e sem respiro,

Sem pestanejo um só, de olhos e orelhas

No Castelo escutava a boa Brígida (3)

Suas longas histórias recontando

D'almas brancas trepadas por figueiras,

D'espertas bruxas de unto besuntadas

Já pelas janelas fazendo víspere,

Já indo, às dúzias, em casquinha d'ovo

À Índia de passeio numa noite

E aí! se o galo cantou, que à fatal hora

Encantos quebram, e o poder lh'acaba» (4)

De facto, como já se percebeu, irei fazer aproximações às “alquímias no feminino” por um viés muito abrangente.

Notas

(1) Esta criada já foi cantada na Dona Branca.

(2) Almeida Garrett - Romanceiro. vol. 2, Porto, Lello e irmão, 1971, 85.

(3) Pequena quinta que foi da minha casa, na qual passei os primeiros anos de infância, e ouvia as histórias da boa Brígida, velha criada que tinha todo o jeito e traça de bruxa, e era cronista-mor de feitiços e milagres.

(4) Almeida Garrett - Dona Branca. Porto, Lello e irmão, s.d., 53.

Professora Associada com Agregação em Filosofia das Ciências do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa .

Co-fundadora, primeira coordenadora e actualmente investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)

Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha CabralCalçada Bento da Rocha Cabral, 141250-047 Lisboa

janeira@fc.ul.pt, aljaneira@sapo.pt

 
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